A Garganta da Serpente

Marconi Moura de Lima

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Ô PAI! Ô MEU PAI!

"Meus filhos,
eu perdi todos os meus filhos!
O que vai ser da minha vida agora!"
Desespera-se um pai...
Eram seis,
Não se faz em um mês;
Não se cria em um mês,
Mas em vez disso,
Os políticos...

Ei!... espera aí... aca... calma... opa!
... e acaba de desabar
sem ninguém cuidar
mais um barraco num buraco de terror,
com três pessoas dentro.
É o desastre da incoerência
Sem veemência
De autoridades
Sem responsabilidades
Que maltratam o povo
Tratam a situação com descaso
Enquanto curtem o vaso
De sua podridão natural
Igual suas caras
De necessidade banal.

Qual igual, mais um grito:
"Ô Pai! Ô meu Pai!"
É o discurso do bombeiro
Que grita o silêncio de um menino soterrado;
De alma soterrada
Pela porrada
Do barro molhado
E do dono desalmado.
É o Felipe quem clama socorro
E implora pro morro:
"não caia mais!"
Mas o morro não ouve seu clamor
E como filme de horror,
Lá vai mais uma alma:
A do Felipe...

Lágrimas da equipe...

Mas acalma que tem mais gente,
Segurando com suas pequenas mãos
Todo um planeta em cima de seus sonhos,
Ou de um: o viver!

Coitado do bombeiro esperançoso.
Grita ao impetuoso acaso,
Chamado vida (acaba ali!),
E quando ouve um respirar sofrido,
Um sussurrar quase banido do mundo,
Vai ao moribundo.
Contudo chega primeiro a terra
E encerra uma história,
E começa outra:
A dos imbecis que já conhecem a situação.
De planilha à mão;
De estatísticas que vêm, que vão;
De pessoas que vieram, que vão;
De desejos pelo poder, vaidade do cão;
De favorecimentos e dinheiro sem razão;
E, principalmente, da falta de coração,
Deixam vazar pelo vão do descaso
A vida,
Esse direito adquirido!
E deixam vazar também terra-água
Vermelha de cor e de sangue,
De dor e de pobreza,
De desamor e de tristeza.

Sabem os desabidos
Que aquilo não presta,
Que a moradia não presta,
Que a miséria indigesta
Exclui para o ermo do sistema
Onde eles, os poderosos da gema,
Não vão morar e comer e viver.

Perder-se tudo por eles... melhor... pior:
Por causa deles!
É duro que o burro controle
O tempo, o vento, o céu e a vida (dos outros!).
Sem planejamento,
Sem invento,
Sem cimento,
Os donos da "parada" não param
De permitir barracos em despenhadeiros.
Assim facilita a corrupção dos "Pinheiros" (e cia.);
Facilita o oportunismo de olheiros.
Entretanto dificulta o trabalho dos bombeiros
Em salvar os já mortos há tempos,
Soterrados pelo Sistema,
Os pobres...
Nobres, porém inúteis ali!

E o pai desesperado?
O pai desesperado é aguardado pela Defesa Civil
Para confirmar que sua vida,
Sem brio,
Pode acabar ali mesmo.
É só lembrar a terra encima
De seis crianças inocentes
E o grito do pai clemente:
"Meus filhos!..."

(Pausa para lágrimas!)

Mas que lágrimas!
O indecente pedidor de votos
Tem que pausar para trabalhar,
Para cuidar destas pobres pessoas.
Não são "atoas" !
São gente...
Inocente...
Morrendo...

Fazendo o que, estão?
Dói.
É só lembrar
Das crianças do Pai
Que foram abandonadas da vida.

E o Pai do "Ô Pai! Ô meu Pai!"
Também está gritando,
Perguntando por seus seis vezes tantos...
Filhos!!!


(Marconi Moura de Lima)


voltar última atualização: 16/06/2008
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