A Garganta da Serpente

Márcia Ribeiro

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PERDOAR

Por que fui ligar o rádio exatamente agora?
A nossa música está no ar.
Tantas promessas feitas ao som desta balada.
E agora você não está mais aqui.
Meus olhos estão repletos de lágrimas.
Bailam lembranças da nossa prometida e tão vivida felicidade.
Nossa inocência, nosso puro amor.
Foi assim que crescemos e construímos a maior parte do que somos hoje.
Mas chegou o dia de acabar e não me assustei.
Éramos tão desprovidos das maldades da vida.
Por vezes falávamos de como seria lindo o dia em que nos separaríamos.
Vivíamos a vida como se ela fosse uma dádiva a nos consolar.
Mas eu não entendi e você se foi.
Deixou-me em dores de ódio e mágoa, rasgando o véu da minha inocência.
Foi assim que aprendi e senti todas as dores, ódios e rancores.
Fui covarde em não te ferir, em não te impedir.
Rasgou-me o ventre, onde uma semente fora plantada.
E logo quando eu mais acreditei estar sendo amada e feliz.
As lágrimas lavam minha face.
Tento esquecer tudo o que você representa na minha vida.
Ora bendigo, ora amaldiçôo sua lembrança viva.
E sigo assim, buscando em cada rosto a sua presença e o seu amor.
Mas já não me pertencem mais.
Não é mais a mim que quer, por quem planeja seu futuro.
Nem o sangue congelado em minhas veias traduz a dor.
Demorei tanto para entender que não estaria mais aqui.
Custei a perceber que não poderia mais atender aos meus chamados.
Cada notícia sua é como um punhal a atravessar minhas costas.
A lâmina impedindo que meus pulmões me deixem respirar.
Faço e disfarço e as feridas não cicatrizam, ardem e amargam.
Chegam em forma de veneno.
Invadem minha boca, me protegendo de você.
Tempo dilacerado pelo seu ímpeto de simplesmente viver.
O eco de suas palavras malditas.
A busca da felicidade que não sabia estar dentro de você.
Morra na sua falsa felicidade.
Viva na dormência da sua pretensa busca fútil.
Amargue agora a derrota dos fracos.
Mas não olhe para trás.
Meus passos me guiam para frente
E param esperando o pedido de clemência nos seus olhos
E lhe perdoarei.
Não por você, mas para que eu viva em paz.


(Márcia Ribeiro)


voltar última atualização: 17/03/2004
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