O crepúsculo dos ídolos (A balada dos ateus)
Assim me convém,
Andar só e displicentemente
Para além de toda moral
e conveniência.
Sou um constante perder-se
E achar-se,
Não mais que uma dúvida perene
Na mente do incauto.
Sou o prometido Super-Homem
Na voz traiçoeiramente mansa de Zaratustra,
O beijo de Judas às mãos de Pilatos.
Quem sou eu senão a morte ?
O céu em transe é meu filho e meu pai e meu irmão
E nada além dele navega sobre mim.
Taciturno, grito ao caos imorredouro :
"Quem sou eu, oh, filho de Hera ?"
E ele responde :
"Tu és o agora e o porvir
o sêmem germinador do Anti-Cristo
Fecundando o ventre de Gaia de onde nascerá
Uma nova ciência !"
Quem sou eu senão um novo Prometeu a cuspir
Seu fogo no céu e inferno da cristandade ?
Um novo ateu, um velho ator,
Humano, demasiado humano,
Cavalgo o último centauro e
Para as gerações dos filhos dos homens
Deixo o legado de minha sincera maledicência.
O crepúsculo dos ídolos se anuncia
Não mais sincero que um allegro de Wagner mas
Suficientemente cortante
Para fazer doer a alma e o nipiar
Estou triste ! Sou triste !
Meu (D)deus morrera na última epidemia do cólera
E fora sepultado em cova digna
Com todas as honras militares.
Sou Uma Fenda no Tempo,
Não mais que o beijo da boca escarlate à
Flor do urânio ...
Sou um novo ator, um velho ateu.
Sou a morte, a morte de D(d)eus !
(Marcelo Orsi)
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