Sou Florbela Espanca
Minha tristeza vem de remotas eras
De longínquos espaços em solidão
Só há outonos, invernos, não primaveras
Na vastitude árida do meu coração.
E esse outono de folhas sombrias e mortas
E esse inverno que meus sonhos transfigura
Faz de mim os galhos d'umarv're torta
E da minha bênção expressão impura.
Ai, de mim ! Carrego esse fadário
Como quem desfia um rosário
D´angústias plenas e dores eternais
Mil cérberos lambem-me a úlcera aberta
Como se beijassem a flor da lepra
Aos pés dos anjos infernais.
(Marcelo Orsi)
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