Cárcere da Morte
Lá está ela, vaga só pela noite,
despida crapulosa de solene bondade,
veste metuenda o terno da maldade,
faz da vida o seu atroz açoite.
Transfunde a melodia em plangente choro,
dos bons lares faz tumbas funéreas,
fatiga os sonhos em dolência etérea,
dilacera o gelo em cinzas de fogo.
Enforca de filame os pobres coitados,
empurra ao sepulcro os mais sem apegos,
dos ociosos afoga o mar de sossegos,
beija serena o nariz vil dos humilhados.
Obriga os livres arrastar grilhões
e consome indócil o suor tempero,
aos de luto deixa mais que desesperos:
em almas puras às dores faz prisões.
Apesar de desumana, vista com delírio,
de crestar o viço do formoso lírio,
celebrar fracassos com ardente círio,
a Morte é solução de cruéis martírios...
(Marcelo Lopez)
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