hebdômada vertical
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
para que não fiques aflita
ordeno a ditongos & canivetes
que preparem ramalhetes
de proparoxítonas
duendes & magos
na ortodoxa ortoépia dos mitos
ao meu sinal ábdito
recitam versos-delitos
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
o escuro assombroso
da nuvem abaixo
cobre a fantasmagórica
luz da cidade nobre
as casas pobres
tombam sobre os jardins ósseos
na escuridão triste
das lâmpadas despedaçadas
mas
cala tua mágoa
a enxurrada posta de pé pelo vento
reduz a distância até os girassóis
vamos velozes por entre os raios
que se engastam
à trombeta dos trovões
lá embaixo
há suaves flores tóxicas
há macios espelhos d´água
há telefones & capim-limão
somos o que vai entre a chuva
perfurando a ventania
em bilhões de orifícios diagonais
atravessaremos juntos
as vidraças do temporal
& solveremos o asfalto das recorrências
infiltrando múltiplas
& sutis incoerências
penetraremos os esgotos
& rasgaremos ávidos
os frios lençóis freáticos
desaguaremos no oceano
meu amor enigmático
& voltaremos como milhões
para este ar de terror & maravilhas
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
(Marcello Chalvinski)
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