A Garganta da Serpente

Manuel C. Amor

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Cântico do tempo amarelecido

As nuvens passaram.
Ficou esta brisa quente e abafada
que sufoca a forma de estar
neste espaço onde as camélias
esqueceram o tempo.
Não tarda que o sol transponha a linha limite
do tempo que recusas a enfrentar
como se tivesses medo do riso dos pássaros
que em voos compassados
regressam à copa das suas árvores

E quando o sol tocar a linha do horizonte
e se espaldar nas montanhas despidas
iluminará o teu céu com o fogo acumulado
do tempo em que os dinossauros verdadeiros
faziam amor por amor.

Mas tu não estarás aí. Nem aqui
neste espaço circunscrito ao voo da mosca teimosa.
Não te doerá a consciência
Não foste tu que inventaste o amor
nem a capacidade incapaz de voar
sobre as ondas do mar.
Não foste tu que pariste a gazela
nem sequer esse teu sorriso tísico.

Não. Tu não inventaste nada.
Foste apenas a criação
de um dos meus poucos momentos de lucidez.

Concebi-te Lírio e nasceste búzio
concha de uma praia qualquer.

Ah! como hoje está tão estranho
este fenómeno trivializado do tempo amarelecido.

(9 Julho 2005)


(Manuel C. Amor)


voltar última atualização: 07/08/2006
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