A Garganta da Serpente

Manoel Guedes de Almeida

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Ahura Mazda

Você sempre se impressiona com palavras poucas
Com sorrisos bobos, declarações de amor pra vida toda
Você sempre espera que seja para sempre
Sempre acorda exasperada e pede corpo rente

É preciso saber e saber esquecer
É preciso dormir e rezar para que nada dure
Mais que um dia. Olhos atentos
O corpo é sedento, e você, criança tonta,
Ainda acredita que a vida é pra sempre

Mas é preciso um mundo sem Gladiadores
Um mundo sem mapas tatuados em corpos
Um mundo sem bússolas em cada punho
Que estes corpos desejem direção. Mas os caminhos
São apenas caminhos e a vida
É mera terra batida

Nossos heróis estão todos cansados, nós
Estamos todos cansados, nossos ideais foram adestrados
Nossos sonhos são programas de TV, nossos filhos
Não suportam Cruzadas, nosso deus não nos agüenta mais

Nosso Graal foi deturpado. Deus foi corrompido. Nossas
Famílias foram violadas. Nosso idealismo foi estuprado
Mas estamos felizes! O céu é cinza e nosso carro é vermelho

Tudo é ausência e porquês, mas estamos bêbados demais
Para pedir um significado. E nos calamos.
De pés atados, de coração atado,
sonhamos um mundo melhor,
mas o que fazer se Jesus está preso em Guantálamo?!

O Sol é luzinha de natal... Papai Noel parkinsoniano...

Seguimos por milênios num deserto até aqui
Mas nossos pés não deixaram marca alguma pelo chão.
Nosso peito sangra muito e é muito tarde
para fingir que não dói mais

(Floriano-PI, 11 de julho de 2009)


(Manoel Guedes de Almeida)


voltar última atualização: 01/09/2009
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