A Garganta da Serpente

Lylia Violet

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Anoitece. Anoitece devagar. Anoitece devagar sobre os ombros.
Sabes que me persegue todas as noites?
A luz dos candeeiros. Julgavas que eles estavam mortos? Não..
São eles que me perseguem. Provocando sombras que vagueiam pela cidade.
Um pássaro traz as imagens de uma folha rabiscada outrora.
Pedaços de ti que escorrem no bico, nas suas penas..
Tornaste-te indispensável à minha mente. És nojento, mas indispensável à alma.
Uma ave de palavras escreve no tecido fino da pele, depois repousa na palma da minha mão,
Ouço-a mas ouso não tocá-la.

Traz-me lembranças de ti.

Estou gasta.
Sempre te dei mais de mim. O possível e o impossível.
A espera.
O amor.
O sorriso.
Apodrece.

Debruça-te, só por uns instantes, para dentro de mim.
Deixa que o tempo te mostre o que fizeste comigo.

Correm os gritos pelas paredes brancas.
Meia de rendas preta rasgada, soutien preto rasgado, tanga preta ensopada rasgada.
Eu.
Rasgada.

It's over. Hands up.
Um morto.
Um corpo despedaçado no meio da rua.
Prostitutas riem desalmadas.

    - Por favor deixe a sua mensagem depois do sinal.

Tentei falar contigo. perdoa-me a ausência

Um morto.
Risos.
Sangue.
Cães que querem devorar o corpo.

    - Por favor deixe a sua mensagem depois do sinal.

Olhos que espreitam.
Pulo por cima dos corpos que observam o morto.
Serás tu?

Não eras tu.
Era eu.

Inadvertidamente bocados de mim serão absorvidos pelo teu estômago e ai, seremos um só
           para sempre.


(Lylia Violet)


voltar última atualização: 26/05/2007
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