Queixas
Não me queixo dos outros só gozarem
Os prazeres do mundo encantador,
Nem maldigo a ninguém, de inveja infame,
Por no baile inspirar a muito amor.
Não me queixo da vida que outros levam,
Nem de nunca num baile delirar;
Não me queixo! talvez até dou graças!
Gosto mesmo já pouco de bailar!
Só me queixo do fado que me segue,
Negro fado, meu Deus! que não tem fim!
Que me arranca na vida as longas penas
Da esperança gentil do serafim.
Não me queixo, meu Deus! do mundo inteiro
Ser feliz, quando eu sofro em solidão!
Não me queixo! só sinto é que, tão moço,
Viva em gelo meu pobre coração!
Dá, Senhor, que esta vida não perdure,
Que eu não morra no ermo a que me impus;
Seja embora depois sacrificado,
Chore ao peso depois de imensa cruz!
(Lycurgo José Henrique de Paiva)
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