Zé
Zé era um bom amigo,
Bebia bem, sabia bem.
Dias desses foi ver o mar
nada demoveu do seu propósito,
e entre ímpetos, canções e copos
dava motivos aos seus axiomas.
Noivo do silêncio
Subia montanhas
Sumia em florestas,
Pássaro de volta p'ra casa.
Num riso cheio de sanha
tinha uma paixão no peito,
cego
enquanto os porcos descambavam para o insulto:
Zé é ladrão, Zé é entreguista, Zé é comunista.
Argumentavam? Não. Sofismavam.
Mas como tudo que existe
e tem limite no espaço
os tem igualmente
no tempo e duração,
A noite caiu em seus sonhos
e pântano foi seu substrato.
Foi como tudo aconteceu.
Zé ensinou a sorrir, gritou
ao esplendor cáustico do céu imaculado,
soprou as copas das palmeiras tremulantes
pois delas é que vem a brisa,
que desliza.
(Lutano)
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