VERGONHA EM PRETO E BRANCO
Quando te vejo numa foto
Tendo os braços nus e o porte atlético,
Levando por entre as mãos guerreiras uma flecha,
Uma vergonha rasga meu recôndito,
Corta-me o peito.
Minha alma de europeu
Se cobre de vergonha,
Vergonha de ser branco!
Onde dormes agora, Índio,
Com teu corpo marcado
Pelas negras digitais da ambição?
Em que sepulcro silencia tua voz
Que outrora declarou guerra pelas matas?
triste de ti que hoje
És apenas uma foto!
Não és bravo, não és forte,
Nem és filho da morte,
És apenas uma foto...
Triste de mim que levo nos ombros e na alma
O peso da mentira retratada em sujas letras
Exaradas nos livros da História!
Triste de mim, sim,
Pois quando te olho nesta foto, Índio,
Tenho vergonha,
Vergonha de ser branco!
(Luiz Alberto Cavalcanti Filho)
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