POEMA MODERNOUm beijo acre estalou meus lábios e o abraço que nunca dei repensou tua falta. Antes, assim à toa, ermo, mesmo, a levar às costas o peso de uma consciência que nunca foi bastante, e quis, eternamente, beijos doces, abraços confortáveis, do tamanho de um coração grande. Em minhas mãos apenas a lembrança do piano. Palmas que negaram dedos que se subverteram contando cédulas, e, na asnice, nunca mais deixaram a miséria metálica. Embriagados bailaram ao ar e enormes unhas negras de contar não foram cortadas e jamais cravaram em costas femininas. A embriagues fez-se tormento, era o fermento que, ao pesar no bolso da calça, rasgou-se e pôs todo sentimento a termo. O tédio que hoje enjaula a gravata que dá folga à goela frouxa, foge lépido ao armário, aposenta a última camisa puída à gola, suja, pendurada, amargando a rejeição do paletó em desuso, por ainda ter corte charmoso. (Luiz Eduardo) |