Absurdia 2
Num mural leio escritas
a tinta espessa,
aparentemente incôngrua
e, enfim, de veludo,
leio, sim,
como que sânscritas
palavras diligentes
a informar que:
"Os homens são sombras,
fúteis e abundantes,
da mulher que dança
ao som da luz do sol."
Leio mais:
"Qualquer sombra
bebe do chão o aparente
da cor que emerge
até do mais absurdo
dos veludos".
Leio,
como já disse
o inverosímil sânscrito
no absurdo da tinta,
no moral circunstante
ao meu olhar.
É então que pergunto:
"Meu Deus, onde estou?"
e a única resposta
é um qualquer colapso
no termo de uma cassete (K7)
dentro de uma máquina;
uma dessas mesmíssimas
a que chamam de Vídeo.
Impõem-se, explicativa,
uma porção da realidade;
tosca a porção
abrupta a realidade
e em suma
o que de mais singelo
se faz subtraível
como fita escura e trilhada
nas entranhas de um engenho.
Imagens, sons,
verdades diversas
e mastigadas por desventura;
desvirtuadas,
como veludo absurdo
aparentemente como tinta
e palavras num mural.
"Os homens são sombras..."
e eu tenho medo
de confundir o fim
com outra anomalia
engenhosa.
Tenho medo
de não entender
e de ninguém avisar
quando, de facto
...
tudo acabar.
(Luis Melo)
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