A Garganta da Serpente

Luis Melo

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Alma (1)

Vi sonhos desvanecerem
como cristais suicidas.
Vi-lhes o sufoco de se explicarem
em medos cronometrados
e de divagarem
com ímpetos empáticos
pela demência.
Podiam ter sido corpos sem rosto
em intermináveis cruzadas
até pelo amor
até sob o estigma do desamor
até com a barreira/bandeira
de toda a ânsia de amar.
Que "não há caminhos divergentes
para quem se quer encontrar!"
A brisa traz o teu canto, Jorge!,
e na palma da mão,
como na alma, o assumir pleno
de uma verdade marginal.
.
Só que a base de tudo isto
não poderá ser plana.
Antes, por coisa terrena,
é tão rotunda como o planeta.
Assim, exulta o absurdo:
só há separação para os passos
em caminhos paralelos
e uma outra via de convergência
resulta de se partir
em direcções obliquas;
Num primeiro tempo de divergir
noutro de convergir, mais adiante.
Leio a ideia de um verso da vida
numa imagem suave em redondel,
sorrisos pintados a pastel
e arcos de círculo em sonho de gente
na mesmíssima volta do meu carrossel.
.
Ao fim da jornada,
haverá, possivelmente,
uma voz a alvitrar penumbras
como as da vida,
-"...sempre a descer!";
Haverá um brado de proclamar
um ponto de encontro
bem lá no fundo. No fundo, pois!,
também dá p'ra entender!
Mas o poeta é um ser aluado
que perde quase sempre o caminho,
a direcção e o tino.
Invariavelmente, ele esgota-se,
incauto como a borboleta,
no final do seu padrão de tempo.
Recolhe-se no aconchego afectuoso
da alcova do seu idioma,
sua primeira e última morada;
Exaure-se no abrigo da máscara
de sofrivelmente fingir felicidade
como adereço mal enjorcado,
"naperon" manchado,
no centro da tremenda mágoa
do esvair pardo de quimeras.
Esgota-se, talvez,
nos seus próprios termos,
ou, meramente, no termo
da
sua
contagem
decrescente.
.
(Amen)
(...Espírito Santo, Amen!)
(Kaput!)
(Fim!)


(Luis Melo)


voltar última atualização: 14/09/2004
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