OBSCURIDADE POÉTICA
Enquanto meus sonhos desvendarem os segredos de tua alma
Farei poesias tiradas da trave que preenche minha concha
Transformando-a em pérolas
Talvez pérolas de Madagascar, quem sabe até pérolas negras
Como negro é o futuro que leio nas entrelinhas de meu vazio habitual.
Enquanto sou capaz de dialogar com o universo
Que me conta de suas saudades, de suas ânsias, pelos beijos dados
Em bocas, ombros, corpo inteiro, correndo a língua ansiosa em peles macias,
Sou capaz também de continuar a balbuciar um abecedário de quimeras
Em livros, em histórias, em contos, cantos e poesias.
Preciso da trave, do cisco, da dor, da distância para me colorir
Para contar as histórias da meia-noite e me perder na imensidão
do universo
Preciso do sangue saindo de minhas veias e entrando em minha boca
Para alimentar o que pretende ter vida eterna
Mesmo que este sangue tenha que ser o meu, ou .......
Preciso que saibas que fugir deve ser teu destino para se salvar
Preciso que vivas da saudade dos beijos que molharam tua boca até o infinito
E que eu saiba desta saudade, lendo-a nos vazios de teus pensamentos amorfos
Que surgem nas visões do inferno que me vêm aos olhos
Em noites e madrugadas de profecias feiticeiras
Preciso que descubra minhas magias, desencante meus altares
Livre-se de minhas algemas, mesmo que pareçam de ouro
E jogue-me no hades da mortalidade, sem saudades
E busque companhias, mesmo que troianas, mais seguras e me veja como sou
Um ser que nunca nasceu e nunca morrerá porque não existe.
Uma sanguessuga do pensamento alheio, de corações perdidos
Enlaçando-os com pincéis que o universo me permitiu ter
Desmanchando futuros, borrando telas de outras artistas que não conseguem
ver
Sua arte destruída, afastada, roubada, tornando-se infinita
Por mãos que não são as suas, mas de uma ladra da escuridão
solitária,
maldita.
Preciso que saibas que uma bruxa dobra destinos e vontades
E aproveita-se da sede dos mortais para lhes servir sua própria seiva
E essa seiva, em seu corpo, torna-se o elo eterno da subjugação
ao feitiço
Preciso que não tenha sede, nem fome, para se alimentar de meus pratos
E assim, consiga traçar seu próprio destino, além e fora
de mim.
Preciso que use teus olhos para ver além do horizonte e da imagem em
tua
frente
E faça com eles o encantamento, que existe em você, se transformar
em
espelho
E neste espelho eu possa contemplar a mim mesma e fugir do que vejo
E longe, te libertar de mim, te fazer feliz, te deixar sentir saudades, sem
culpas
De buscar os rostos, as bocas, os corpos que te saciam de verdade.
Minha tumba é feita de mel, arrasta os incautos para outras vidas
Meus olhos são feito fogo, queimam quem busca se aquecer
Minhas palavras são feito ferro, marcam mentes que se abrem a elas
Meu toque é feito magia, encanta os desencantados
Minha poesia é feito feitiço, nunca será obscura porque
sabe o que quer
dizer.
Eu sou inteira falsa, porque não sou daqui, não tenho um espaço
próprio
A não ser minha mente, minha alma, minha eternidade, minha vontade
É preciso que busque a descoberta do verdadeiro tesouro, que não
há em mim
Porque o escondi onde não há caminhos para simples mortais
E não devo abrir porteiras para as pradarias que me levam a ele
É preciso ser alado, ser amado, ser mágico, ser encantado
Para me compreender e me aceitar
É preciso não ser, para ser comigo
E deixar de ser é um perigo que não vale a pena ser tentado
Quando o mundo é um céu que até Deus quis por morada.
Então... é melhor ser, pensar, viver, fazer, iludir, ser iludido
Até escrever poesias, lidas no espaço e no tempo certo, vivido
E esquecer de sonhar enquanto as feiticeiras te rondam
Para descobrir o que vai em tua alma e fazer nela um mapa
Para criar seu próprio país e nele se instalar confortavelmente
Enquanto ali puder matar sua sede, sua fome e criar novos feitiços para
sobreviver.
A poeta feiticeira, quando amada, nunca será obscura, quem quiser que
deixe
o Cavalo de Tróia entrar...
(Luckka)
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