A Garganta da Serpente

Lucas Tenório

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Iputinga?

Iputinga, a cantiga,
uma canção de ninar
tu me deste, minh'amiga,
no meu primeiro acordar
para o mundo, Iputinga,
e me pegaste nos braços,
e só de abraços, boas-vindas,
me encheste de amores.

Iputinga, os alvores,
teu raiar cintilante,
aos meus olhos reluz
uma manhã tão distante,
o nascer, rebentar,
foi teu sinal da cruz,
que me fizeram acenar
em teu leito de luz.

Iputinga, festiva,
o bairro onde eu nasci.
Lá as primeiras fadigas
em teu corpo senti,
e voltar, minha querida
pro teu colo queria,
pois seria, Iputinga,
minha maior alegria.

Iputinga, parteira
sem luvas, bisturi,
não esqueci as ladeiras
por onde sempre desci,
e as matas matreiras
dos teus tons colibris.

Iputinga, minh'amante
de um tempo passado,
procurei-te um dia
depois que eu fui sem ti
e me tomou a nostalgia
em meu peito, eu não quis
te deixar, Iputinga,
quis ficar ao teu lado.

Iputinga, o passado
é tão bom recordar,
em teu seio lembrar
das nossas brincadeiras,
de dormir nas esteiras
e no quintal despertar,
vindo a noite faceira
com tua lua a sonhar.

Iputinga, anelante
eu te rogo, te evoco,
hoje estou tão sozinho,
quero o afago, teu ninho,
o manjar das fruteiras
de teus frutos fresquinhos,
Iputinga tuas flores,
pássaros multicores,
infantis, teus odores,
Iputinga tuas dores,
quero nascer de novo
e parir-te distante
numa casa no campo,
de um doce acalanto
num eterno embalar,
ao deixar, Iputinga,
nosso tempo passar
irei te eternizar
na minha recordação,
é que aqui dentro,
Iputinga,
bate o teu coração...


(Lucas Tenório)


voltar última atualização: 01/08/2002
6655 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente