COTIDIANAS
Pensando bem, é preciso reconhecer o outro.
Ler nos sinais da presença,
O gesto escondido,
O som não emitido,
A angústia abafada.
Mas não é possível traduzir tudo,
Praticar autópsia a cada encontro,
Milimetrar esboços de mágoa,
Precisar olhares de confronto.
Pensando bem, é impreciso conhecer o outro.
Crer nas tramas da palavra,
O projeto dividido,
O amor não merecido,
A paixão monossilábica.
Cada fragmento de experiência,
Colados uns aos outros,
Cria monstros, indecifráveis,
Cobertos pela fina camada do novo.
Pensando bem, é narciso tecer o outro.
(Lou Bertoni)
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