Anatomias de Vênus - IV
Oh, minúscula fonte de prazeres infindos,
Infinitos, cósmicos, orgásmicos,
Que se esconde, assim, recôndito, latente,
Protegido, tímido gineceu,
Entre róseas pétalas que se abrem,
Intocadas, perfumadas!
Oh, rubro e intumescido falo ceifado,
Reprimido, castrado,
Que vibra e tine ao toque suave,
Como o mais puro cristal,
E se agiganta ao beijo linguado,
Que o acaricia, suga e envolve
E a conduz em espirais
De hipérbole
Ao gozo infinito, em espasmo final.
Quem o nomeou assim, tão estranho,
Não o chamando nome de botão de flor?
Porque o fizeram paróxi, e não oxítono,
E sugerindo plural se é único,
Pois assim soaria melhor?
E, mais ainda, porque o fizeram masculino,
Quando você é a essência do feminino,
De Vênus, da mulher amada,
Mesmo sendo o elo perdido,
Finalmente descoberto,
Durante séculos reprimido
Androginia do próprio amor.
(Lhenrique Mignone)
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