A Garganta da Serpente

Leticia Beze

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Semper Fi

Os móveis estão nos mesmos lugares
Cobertos por lençóis amarelados
Ausência de movimentos
Lembranças de músicas não diminuem o silêncio
Apenas transformam o espaço vazio em fantasmas cansados
A tarde invade tudo
Seu mormaço insuportável
É como o beijo na boca de uma velha senil
Não encontro conforto para meu corpo
O soluço não cessa na respiração angustiada
Choveu há muito tempo atrás
Ninguém ousou ouvir a maldição da velha
No velório, ninguém se aproximou do caixão
Minha casa está aqui, os móveis cobertos, cansados
Sinto o cheiro ácido das frutas apodrecidas
A velha deixou na lápide seu recado:
Não mexam nos lençóis, não arrastem móveis,
Deixem a poeira amenizar o ar pesado.
E a vontade que me nega
Volta quando esqueço de respirar


(Leticia Beze)


voltar última atualização: 25/03/2004
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