DESENCANTO
Manhã. Apresentam-me o si
da falange que me procura
tão distal que me aproxima
tão boa que me tortura
Eu gritei-lhe de tão intensa
mas sofri por não ser-te tua
e de não ser-te os dedos tensos
que calam ao ver-me nua
Tarde. Eu fechei-me e chorei
e não completam-me as falanges
pois o que não me são minhas
são d'um homem que não surge
Eu gritei de tamanho espanto
porque se é de cio o meu pranto
dele não restará nada
nem ao menos desencanto.
(Lenita Gonçalves)
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