A Garganta da Serpente

Karla Hack dos Santos

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Poesia Oculta

Estas são as cicatrizes que eu não mostrei.
Estes são os versos que tentei esquecer.
Estas são as lágrimas que derramei escondida.
Esta é a dor que eu finjo não ter.
O tempo não poderá apagar.
Está marcado em meu coração.
Uma ferida que não sara.
A cruz de viver só.
Eu queria entender porque continuo.
Quando sofri, com uma gargalhada iluminei-me para os outros.
Ninguém viu.
Tentei demonstrar.
Ninguém viu.
A solidão abate meu ser.
Um mundo de acontecimentos sem conexão.
É real demais para passar.
Enquanto salvo os tolos,
Perco-me.
Em cada novo passo, caio.
Eu queria poder ser amparada, pelo menos uma vez, na subida.
Não sou.
Mais um ferimento sem cura.
Mais uma queda infinita
E uma subida dolorosa.
Não tenho mais lugares para machucar.
Já não tenho uma parte minha que não esteja sangrando.
E ninguém vê.
Qual a razão disto.
Estão cegos?
Estou louca?
Eu sequei seu pranto com meu cabelo,
E você?
Eu busquei no mais profundo mar a solução para seus problemas,
E você?
Meu rosto está perfeitamente maquilado.
Meu sorriso intacto.
Minha roupa impecável.
E você não nota?
Estou interpretando.
Minhas cicatrizes não estão amostra.
Isto não significa que não sofri.
Eu fiz de tudo para tentar dizer,
Tentar mostrar,
Tentar não amar...
Não posso.
Esta é poesia oculta da minha alma.
Este é o momento em que revelo meus medos.
Isto não é uma peça.
Você nunca vai entender?
Por que insisto em explicar?

(Karla Hack dos Santos)


voltar última atualização: 01/12/2008
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