A Garganta da Serpente

Junia Bittencourt

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ESTUAGEM

O destino e a sede não residem
Nas águas que escorrem nas cachoeiras
Nem nas águas salgadas dos oceanos
Minha sede é da água morna que sai do chuveiro
Aliviando o cansaço à espera do passar do tempo
Tempo que vem sem pressa
Amanhã que demora tanto...
Que minutos são horas, horas dias, dias anos...
Que quando chega, chega velho e cansado...

Meus desejos residem em cantos pequenos
Onde a luz é fraca e a música calma
Meus sonhos estão ali
Meus desejos adormecem em sofás de napa...
Que me fazem suar as costas
Na tevê preto e branco
E seu chiado insuportável de abandono
As minhas esperanças residem
Em mundos que não existem

As esperanças residem na sombra dos girassóis
Onde setas apontam para todos os lados
Minha ânsia não está no barulho da grande cidade
Nem nas buzinas desesperadas dos automóveis
Minha ânsia é do silêncio da praça preferida
Que vejo da janela semi-aberta do meu quarto
Sonhos desmaiados sobre pedras esmagadas
Vez ou outra uma mulher com pressa
Passa indo sabe-se lá pra onde
Quantas vidas vão e vem ali...
Quanta espera se perde nos caminhos

Agora, as minhas agonias,
Essas sim... Moram aqui mesmo...
Moram no suor que não derramei
E na luz que ainda não acendi,
Embora noite fechada...
A agonia está na chaleira com água pro café,
No gás ligado que o vento sopra tentando apagar
A agonia está nos meus óculos
Nos meus óculos insuficientes que teimo em usar
A agonia está nesse sono impenetrável
Do qual não consigo acordar


(Maria Morena)

(Junia Bittencourt)


voltar última atualização: 15/08/2006
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