A Garganta da Serpente

Junia Bittencourt

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Elegia

Dispo-me para ti às três da tarde em ponto.
Mesmo que tu não venhas, dispo-me.
Mesmo que digas que não vens, dispo-me e espero.
Porque te esperar é o que faço de bom na vida
E só faço porque nada mais me resta a fazer de bom.

Grito teu nome porque é teu nome que sei dizer.
Sussurro te chamando porque sei que não me ouves.
Mesmo que digas que não ouves, chamo a ti.
Pois te chamar é o que faço de bom na vida.
E só faço porque nada mais me resta a fazer de bom.

Penso em ti cada minuto do meu dia.
Mesmo que os pensamentos sejam só saudade.
Mesmo que a saudade seja dor intensa.
Porque pensar em ti é o que faço de bom na vida.
E sentir saudade é o que me resta a fazer de bom.

Procuro tua sombra para ver se encontro a ti.
Na noite escura, procuro a ti.
Mesmo que não haja luz procuro a tua sombra.
Procurar a tua sombra é o que faço de bom na vida.
E só faço porque nada mais me resta a fazer de bom.

Sonho acordada porque não consigo dormir.
Mesmo que eu durma o meu sonho é pra ti.
Mesmo que digas que não vens, meu sonho é teu.
E sonhar contigo é o que faço de bom na vida.
E só faço porque nada mais me resta a fazer de bom.

Visto a mortalha às 23 e trinta. Nem sempre em ponto.
Mesmo que tu não vás, visto a mortalha.
Mesmo que digas que não vais, visto-me de preto.
Porque me despedir de ti é o que faço de triste na vida.
E só faço porque nada mais me resta a fazer de bom.


(Junia Bittencourt)


voltar última atualização: 15/08/2006
8898 visitas desde 15/08/2006
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente