A Garganta da Serpente

Júlio Saraiva

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eu escrevi um poema...

eu escrevi um poema
para mulher que eu nem sei que é
e nem ela sabe quem eu sou

eu escrevi um poema
para uma mulher triste
rosto marcado por rugas precoces

eu escrevi um poema
para uma mulher que eu nem sei quem é
sei apenas que é triste
e tem o rosto marcado por rugas precoces

eu escrevi um poema
para uma mulher que eu nem seu quem é
e nem ela sabe quem eu sou
mas é uma mulher triste
rugas precoces no rosto
e uma criança nos braços
a sugar-lhe o seio murcho

eu escrevi um poema
para uma mulher triste
que estava sentada no degrau da escadaria
da catedral da sé
com uma criança nos braços
a sugar-lhe o seio murcho

ontem eu escrevi um poema
que não vai mudar a vida dessa mulher triste
sentada na escadaria da catedral da sé
um poema não vai mudar a vida
da criança que ela traz nos braços
a sugar-lhe o seio murcho
um poema que não vai mudar nada

ontem eu escrevi um poema
para uma mulher triste
que nunca vai saber quem eu sou

ontem eu escrevi um poema triste
como tantos outros poemas tristes
para uma mulher triste
como tantas outras mulheres tristes
que vivem na desigualdade do meu país

ontem eu escrevi um poema triste
para uma mulher triste
que nem sabe o que é um poema


(Júlio Saraiva)


voltar última atualização: 17/05/2010
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