SONETO CRUEL, QUASE UM TANGO
gosto quando me fisgas com as tuas fugas
e sem querer querendo corres e me escapas
procuro-te em vão nos imaginários mapas
sulcados em meu rosto na forma de rugas
e assim como num tango me sangras me sugas
envolves o meu corpo nessas negras capas
tecidas em cetim ou ordinárias napas
restos de funerais que por preço alugas
gosto quando me matas a lentas facadas
e no dia seguinte surges em sorrisos
depois de reduzir-me a todos os nadas
me cobres a boca com beijos tão precisos
oferecendo-me o bom mel das madrugadas
que eu faço que apago todos os prejuízos
(Júlio Saraiva)
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última atualização: 17/05/2010 |
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