A Garganta da Serpente

Júlio Saraiva

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

DEUS BRASILEIRO

"Tambor está velho de gritar
ó velho deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente
dos trópicos."

- José Craveirinha -

"Abre as cortinas do passado
Tira a Mãe Preta do cerrado
Põe o Rei Congo no Congado
Brasil, Brasil..."

- Aquarela do Brasil, Ary Barroso -


o meu deus é brasileiro
não chegou em caravela
veio num navio negreiro
de luanda de benguela

o meu deus é brasileiro
fala nagô fala tupi
pois que tupã mais olorum
por bem fundiram-se num só
contra o mal do cativeiro
nenhuma dor nenhuma dó

o meu deus é capoeira
e de arco e flecha também é
é cipó pemba e aroeira
briga na mão briga no pé
não é deus de brincadeira
o que alimenta a minha fé
este meu deus não é de amém
este meu deus é deus de axé

deu-me sangue de floresta
e uma alma boa de tambor
coração lá na senzala
fez do sofrimento festa
sem esquecer nunca do horror
do tronco do pelourinho
e do maldito do feitor

o meu deus vem do quilombo
tá no chão não nos altares
não se entrega a qualquer tombo
manda tudo pelos ares
nesta terra de palmeiras
fez a história de palmares

o meu deus é deus de ginga
o meu deus é deus de jongo
foge pra lá diogo cão
mais respeito ao rei do congo

o meu deus é brasileiro
vai do oiapoque ao chuí
é o deus de macunaíma
deus de ceci deus de peri
o meu deus é o de dandara
este meu deus é o de zumbi


(Júlio Saraiva)


voltar última atualização: 17/05/2010
12110 visitas desde 16/06/2008
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente