A Garganta da Serpente

Juliana Valis

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ANGÚSTIA SIDERAL

Gostaria de ser apenas verso
De tal modo que meus dilemas
Fossem só poemas no universo
Perdidos em fragmentos tão leves
De qualquer réquiem de cometas puros
Vagando, crescendo, surgindo
Em meio a vendavais nem tão seguros
Como os ventos de um dia lindo
Como os tempos de letras que são apenas
Rimas-áureas lutando contra a injustiça
De um mundo cretinamente mecenas
Sem fundo, sem voz que tanto enfeitiça
A monotonia cínica de tantas vidas sós...

Sim, gostaria de ser somente verso
Transcendendo qualquer matéria-vã
Qualquer molécula do meu inverso
Nesta existência nem sempre sã
Que se perde em rotas pouco leves
Como labirintos de letras e estrelas
Imiscuídas em céus tão breves
Tão ofegantes por nunca vê-las
Voando, vivendo, vindo
Em meio aos furacões da angústia sideral
No seu inverno tenebroso, rindo
Do meio termo entre o bem e o mal
Do furacão perdido entre tudo e nada
Furacão chamado insônia...

Ah, gostaria de ser apenas o verso
De quem eu sou em doses de incongruência
Imiscuída no vão, vácuo disperso
O inverso do medo em toda a sua essência
Meu Deus, quando foi que eu acordei assim...
Foi na infância ? Na esperança da adolescência ?
Meu Deus, quando foi que eu me perdi de mim ?


(Juliana Valis)


voltar última atualização: 14/10/2006
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