A REVOLTA DAS EMBALAGENS
COMPANHEIROS, UNI-VOS
EMBALAGENS REJEITADAS DO UNIVERSO TODO, UNI-VOS
O dono da venda
Que tinha medo dos capitalistas desde a época do Jango
Correu para discar o 190
Mas a linha já tinha sido cortada pelos revoltosos
As embalagens cansaram das injustiças
Tremiam de indignação ao ver que os recheios mais ordinários
Gozavam de fama e luxo de reis
Enrijeceram, mas sem perder a ternura
Dos feios sentimentais que tanto sensibiliza as pessoas
Os excluídos começaram então o caos
Tomaram a venda, a rua, o quarteirão, e logo depois a cidade inteira
E começaram a escancarar as embalagens
Latas, sacos de papel, cápsulas de plástico, folhas-de-Flandres
Encontraram provas estarrecedoras:
Muita ervilha podre
Muito leite azedo
Muito milho carunchado
Muitas bolachas moles e biscoitos esfarelados
Muita conserva esverdeando putrefata
O nojo dos fregueses foi enorme
Passaram eles a abrir cada embalagem
Mas se esqueceram
De abrir a própria e olhar lá dentro da alma
Antes de jogar alguém no lixo
(José Marcelo Siviero)
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