A Garganta da Serpente

José Luongo da Silveira

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

SÓ PENSO EM HAIKAIS

Na quase manhã
há algazarra de pássaros
em revoadas
............

A rosa acorda
bebe o sereno da noite
se abre úmida
.............

cada olhar é único
a vida não se repete
o olhar a completa
..............

A gota de água
no fio de arame hesita
baila na luz
...............

A arte de morrer
a gota d' água sabe
vive sem apegos
................

A chuva canta
na vidraça da janela
com lágrimas nos olhos
.................

Por um instante
acaricia meus cabelos
uma brisa morna
.................

Senti saudades
Por toda a minha vida
de quê nem sei
.................

Apenas o vento
diz que vi outros mares
ele sempre mente
.................

Sou pássaro
migratório de regresso
ao ninho antigo
.................

Bem no fundo
da gaveta das coisas velhas
o gosto de teus beijos
.................

Lábios róseos
minha canção de espera
com teu perfume
.................

O tempo derrama
na luz do crepúsculo
muitos olhares
.................

Vento minuano
varre o frio da tarde
ao sol poente
.................

Um vaga-lume
acende seu lume na noite
e faz poesia
.................

Será que a lua
incendeia os amantes
na madrugada?
..................

As flores abrem
à espera de abelhas
que as fecundem
...................

Sobre a idade
mentiu mentiste menti
sempre mentimos
...................

Aquela senhora
nunca passa dos quarenta anos
eternizou-se
...................

O meu abrigo
é uma canção de ninar
que a mãe cantou
....................

na beira d'água
os juncos balançam
com teu olhar
....................

Habita em mim
um sonho antigo
de virar nuvem
...................

A poeira do tempo
carregou a luz de teu olhar
ficou eco de passos
....................

Desate o vôo
o tempo não se demora
em dias passados
...................

persigo teu olhar
como as trevas perseguem a luz
com sofreguidão
....................

lugar perdido
nem mesmo em sonhos
podes visitar
.....................

O chamego das aves
tece casas com gravetos
música dos ninhos
.....................

Por que o vento
não varre para longe
as minhas tristezas?
.....................

Onde andará
o menino cheio de sonhos
acaso morreu?


(José Luongo da Silveira)


voltar última atualização: 06/02/2007
11361 visitas desde 29/09/2006
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente