A Garganta da Serpente

José António Gonçalves

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ANOTAÇÕES PARA AMANHÃ

(Para Francisco Fernandes)

Saber
ver mais além onde está o âmago
da pedra

Contar
a chama que arde na palavra escrita
aguardando por ser livre

Congeminar
o alcance do âmago das coisas novas
entrando no silêncio das casas

Avançar
para a amplidão dos prados e dos mares
espreguiçando a luz altaneira
dos conhecimentos

Cobrir
a escuridão com os raios de sol do dia
guardados no magma do coração
por toda a vida

Aguardar
a repetição das ondas dos tempos
insanáveis no rebuliço dos alicerces
de todas as pedreiras

Esconder
o fechar dos olhos aos livros novos
às adoradas páginas ainda por abrir
com a negra vergonha da ignorância

Descansar
com o dever cumprido no quotidiano
das almas pelo semear da sabedoria
nos jardins ressequidos

Deixar
crescer a flor no cimento dos pátios
cercados pela sombra dos muros
a cada folha do calendário

Descansar
o corpo nos braços apertados da amada
esperando que um dia amanheça
onde nunca houve madrugada

(02.04.04)


(José António Gonçalves)


voltar última atualização: 16/06/2004
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