ANOTAÇÕES PARA AMANHÃ
(Para Francisco Fernandes)
Saber
ver mais além onde está o âmago
da pedra
Contar
a chama que arde na palavra escrita
aguardando por ser livre
Congeminar
o alcance do âmago das coisas novas
entrando no silêncio das casas
Avançar
para a amplidão dos prados e dos mares
espreguiçando a luz altaneira
dos conhecimentos
Cobrir
a escuridão com os raios de sol do dia
guardados no magma do coração
por toda a vida
Aguardar
a repetição das ondas dos tempos
insanáveis no rebuliço dos alicerces
de todas as pedreiras
Esconder
o fechar dos olhos aos livros novos
às adoradas páginas ainda por abrir
com a negra vergonha da ignorância
Descansar
com o dever cumprido no quotidiano
das almas pelo semear da sabedoria
nos jardins ressequidos
Deixar
crescer a flor no cimento dos pátios
cercados pela sombra dos muros
a cada folha do calendário
Descansar
o corpo nos braços apertados da amada
esperando que um dia amanheça
onde nunca houve madrugada
(02.04.04)
(José António Gonçalves)
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