A Garganta da Serpente

Jorge Lucio de Campos

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TRAPÉZIO

os sapatos saltam
pra dentro da sala
perdem o fortuito
brilho de charão
a elegância de
quem os traja
porta comporta

os sapatos vestem
pés desnudos e
desbelos higiene
de unhas sujas
-agudas

os sapatos cobrem
pés enfiados em
meias de seda
velam o fino das
meias que por sua
vez disfarçam
a pele madura
que por sua vez
oculta a flacidez
da carne que por
sua vez poupa
a visão do san
gue fluindo por
vasos floridos
pela arte de
anatomizar

as mãos
no interior
rasgado do bolso
facetadas em
luvas de pelica

as mãos que
em verdade
são presas de
grande pudor
por terem cinco
dedos que apon
tam despontam
em esmero e
acusação

isso: temem
umedecer a
cada movimento
brusco busca
(in)suspeita

ou talvez?
por medo de
mostrarem o
que fazem e
fizeram pelo
homem que
as transporta

censurável
e múltipla
a meu ver
humilha-se
a cabeça
ali plantada
nos ombros
debaixo de
cabelos de
todos os
castanhos
possíveis

subestima-se o
cabelo engomado
penteado reparado
pelo melhor dos
fígaros sob o
pesado chapéu
de indaiá -

deprecia-se
o chapéu ao
colocá-lo em
cabeça emp
astada posta
em desalinho
tão flagrante
(irreparo
temporão)

rebaixa-se
o cabelo
ao ponerlo
cobrindo
cabeça
rupestre
de idéia e
relance o

sexo corre
por detrás
das calças
demonstra
seu retorno
suas lesmas
hipnóticas

falta ereção
mostrar tudo
isso: o sexo
corre por
detrás das
calças corre
do homem
que o aplica

a meu ver
da testa
para cima
o homem
se flagela

(inúbil)
indubitável
o sexo corre
por detrás
e fica a

dúvida


(Jorge Lucio de Campos)


voltar última atualização: 02/09/2010
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