O Lobo da Estepe
Caminhando silenciosamente pela calçada como de costume
Tantos pássaros desamparados em sua frente, ele se depara,
Tão ausentes de si mesmo e de suas existências.
Avançando mais um pouco, avista crianças brincando,
A arruaça que elas fazem dá ânimo para ele continuar.
De repente uma granada em plena rua cai em seus pés,
Mas ele se desvia e ao virar a próxima rua a granada explode.
Voltando para casa absorto em suas fantasias. Entra no quarto,
Senta na cama meio ofegante, mas farto de andar.
Concentrado com o olhar para parede e imaginado situações novas,
Como faz todos os dias, algo o desperta de seu transe:
É o rato imundo, mas sincero, correndo no assoalho.
Chateado com o importuno, inventa de fazer um café:
E para de pensar um pouco. Subitamente vem uma vontade louca,
De pular a janela da cozinha e enfrentar tudo e todos,
Como Dom Quixote com os moinhos de vento.
Mas ele olha para pequena janela e a vontade cessa.
A impossibilidade de mudança não o assumi,
As incertezas continuam... Em pé aguardando a água ferver,
Ele percebe como cansa esperar tudo ficar pronto.
(João Manoel de Oliveira)
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