CHUVA TOMBADA
Cai mansamente a chuva na noite terna.
Pingo em pingo encharca meu coração
Tombado de lágrimas da espera eterna;
Carente do adubo para secar a solidão.
Calmamente a chuva de mim se encanta!
Transforma meu ser num túmulo de desejos.
Salivo, então, teu corpo que em mim decanta
Todos os suores; tua boca, volúpia de beijos.
Agora, não mais são os pingos da chuva
Encharcando meu coração vão e solitário.
Neste instante é o teu corpo todo o relicário,
Guardião do meu corpo - teu sacrário! -,
Tumba eterna do teu corpo - meu relicário! -,
Terço duma oração eterna deste ser solitário.
(João Batista do Lago)
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