As teclas
Não vejo as teclas a música vai-se ouvindo ainda assim
As árvores despiram o pijama para ficarem bem acordadas de noite
Eu sei aonde está o rio que vai desfiando às pedras as histórias
que ouviu
Ele é que não sabe de mim
Amanhã talvez o vá cumprimentar, como vai senhor rio, não
precisamos disso
Conhecemo-nos bem, não como este computador que joga comigo xadrez
O amigo Mozart brinca com as notas e nem delas precisa a não ser para
também nos
Contar outras vidas
Vai nascendo o sol neste cair da noite ritmado, aonde os ouvidos talvez estejam
a mais
Como essas negras aves que pairam sobre a casa desenhando buracos e telhas e
que não param de martelar com a sua dentuça em forma de dedos,
sinto frio assim como quem estivesse demasiado vazio, vem de dentro aonde o
agasalho não é de coisas
Talvez a música desperte o desafinado na sua harmonia e o encaminhe para
a rua da gente sem rua apenas gente, caminhando ao seu lado
Talvez não seja tarde e possa amanhecer num poema qualquer aonde não
haja finais de dia onde as ideias e letras, tortas ou direitas tenham o que
quiserem, a profanação da ordem ou do caos mas que sejam no entusiasmo
criativo de ser
Que as batatas cresçam, as videiras dêem uvas, as macieiras maças,
as cerejeiras cerejas, o sol nasça às tantas horas do dia, das
nuvens caia chuva, mas que em tudo se respire o ar liberto da poesia
(João Sevivas)
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