A Garganta da Serpente

João Sevivas

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As teclas

Não vejo as teclas a música vai-se ouvindo ainda assim
As árvores despiram o pijama para ficarem bem acordadas de noite
Eu sei aonde está o rio que vai desfiando às pedras as histórias que ouviu
Ele é que não sabe de mim
Amanhã talvez o vá cumprimentar, como vai senhor rio, não precisamos disso
Conhecemo-nos bem, não como este computador que joga comigo xadrez
O amigo Mozart brinca com as notas e nem delas precisa a não ser para também nos
Contar outras vidas
Vai nascendo o sol neste cair da noite ritmado, aonde os ouvidos talvez estejam a mais
Como essas negras aves que pairam sobre a casa desenhando buracos e telhas e que não param de martelar com a sua dentuça em forma de dedos, sinto frio assim como quem estivesse demasiado vazio, vem de dentro aonde o agasalho não é de coisas
Talvez a música desperte o desafinado na sua harmonia e o encaminhe para a rua da gente sem rua apenas gente, caminhando ao seu lado
Talvez não seja tarde e possa amanhecer num poema qualquer aonde não haja finais de dia onde as ideias e letras, tortas ou direitas tenham o que quiserem, a profanação da ordem ou do caos mas que sejam no entusiasmo criativo de ser
Que as batatas cresçam, as videiras dêem uvas, as macieiras maças, as cerejeiras cerejas, o sol nasça às tantas horas do dia, das nuvens caia chuva, mas que em tudo se respire o ar liberto da poesia


(João Sevivas)


voltar última atualização: 11/09/2009
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