A Garganta da Serpente

Joana DArc

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ANJO ALGEMADO

Eu vivo assim
De manhã acordo e solto minha alcatéia
A noite retiro as algemas de meus anjos
E assim vivo
Entre o martelo e o crivo
Entre o lodo e o cravo
Eu caminho assim
Na batalha entre o perdão e a vingança
Entre o beijo fatal e a mordida mordaz
Que adoça e envenena a língua da criança
Assim sou eu
Que quer matar e deseja morrer
Que busca a fatalidade no abismo da esperança
Eu vivo assim
Misto de princesa e bruxas sutis
Que traça a vida no limite do giz
Olho-me no espelho
Sou mais bonita malvada,
Vestindo a roupa natural de meretriz nua
Eu sou assim, bendita,
pura , alma hermafrodita
Tenho castelos e moro na rua
Eu vivo assim
Ando sobre o risco feito em aço
Pendurada em fios de seda
No riso me desfaço
No caos me encontro, ponto a ponto
Eu sinto assim
Bordo e pinto meus sete pecados
Como quem reza ao holocausto
E faz oferendas ao diabo
Escrevo cartas, não mando recado
E assim eu vivo
Amando a liberdade , odiando a democracia
Tenho horror ao coletivo
Idolatrando a minoria
E assim vou vivendo
Entre o prazer e a dor
Entre o vazio do amor
Quebrando espelhos trincados
Chutando as latas e o rancor
E assim sou eu
Não tenho , não busco , não quero nada
Assim sendo
Quero que o sol morra
Quando nascer a madrugada


(Joana DArc)


voltar última atualização: 16/06/2008
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