"Sou eu *
As mãos tentam se soltar
Mas permanecem sobre a meia calça que cobre as pernas, como uma cobertura
pra saída.
Máscara de gás na nossa respiração
Louca, apenas olha, não escuta, não diz, ela não tem outra
cor, seus olhos não tem cor."
G.C.
querida
É claro que queria compreender o que somos realmente. Até onde
iríamos juntos...
Pode ser que não cheguemos a lugar algum, ou que cheguemos o mais distante
que poderiam chegar um ator cansado e uma bailarina de férias. Como é
difícil se fazer entender e entender-se no momento em que começo
a verbalizar tudo que pretendo.
No livro da Anaïs Nin que comprei ontem ela comenta mais ou menos o que
te disse da necessidade de dizer para esclarecer o pensamento, fiquei feliz
por que pensei que só eu cometeria loucuras assim. Falar com você
é prazer, sempre... Mesmo quando me chateio com algumas coisas que há
entre nós.
Gosto de ver tuas fotos por que gosto do teu olhar (Esfinge pronto a devorar
os despreparados), ver teus lábios e reviver as conversas que já
tivemos. São boas as fotos por que são parte de você. Pode
ser uma representação, um momento, um gozo, um espasmo, mas sei
que é você.
Você lembra de quando tudo era mais ameno? Quando os dias apenas passavam
sem nos arranhar tanto, sem nos arrancar tanto. Éramos mais felizes????
Tínhamos mais inocência em nosso trato? Tudo tem uma luz diferente,
uma precisão diferente; por que somos diferentes do que já fomos
e isso é muito bom.
Aprendi a não te esperar, se marcamos compareço por que sou assim.
Mas enquanto espero uma angústia cretina cresce em meu peito por que
você me deixa inseguro. Poucas pessoas gostam de se sentir dessa forma
e eu não sou esse tipo de romântico, não sei mais se há
romantismo em mim. Creio que acabou junto com o uísque e a tinta de minha
caneta tinteiro. Sempre tem uma pessoa a quem devemos algum tipo de explicação
e quando tentamos cumprir nosso papel tão imbecil nos lançamos
no abismo, nos entregamos de bandeja. Acabei de fazer com uma pessoa que não
me compreende, alguém que não vê o óbvio como você
e eu. Quando digo que tenho medo é mais que assumir uma fraqueza, é
mais que um pedido de ajuda. É um elo forte de confiança e uma
forma que tenho de dizer que me sinto bem ao teu lado, que quero preservar nossa
relação e que te deixo assim por que você sabe que tenho
o meu carinho e meu espaço como sei que há isso em você
também. É respeito.
Meus poemas te retratam até quando não são sobre você.
Queria tanto poder terminar logo esse CD dos infernos. Não agüento
mais pensar em como você talvez gostasse de ouvir esses poemas que ainda
escrevo sendo recitado com a voz arrastada por conta do uísque e pelas
pausas entre um trago e outro no meu cigarro que você diz ser de punk
e não de um beat. Penso mesmo em coisas fúteis talvez, mas quando
existe a possibilidade de você surgir eu me sinto feliz, como éramos
antes de muita coisa acontecer em nossa vida. Nada nos separou realmente e isso
é importante. Quero te ver crescer ainda mais. Dizer mais. Escrever mais.
Pintar mais. Fotografar mais... Quero te ver gozando mais. Amanhã talvez
nos vejamos, talvez não nos vejamos, mas espero que saiba que ainda continuo
caminho debaixo da chuva sem me esconder. Estou pronto...
(Jim Duran)
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