Plantação
O agricultor matou a fome com um naco de terra
e protegeu-se do frio com um cobertor de vermes.
Não tinha terra; agora, ele era a terra.
E no buraco que a espingarda cavara em seu peito
fincaram-se as raízes da miséria e do desespero.
Seu sangue, ainda quente, irrigou a lavoura
e fez brotar as flores horrendas
de frutos que não matam a fome.
Sua carne, mesmo que pouca, adubou as plantas
e deu-lhes a palidez mórbida
do triste fim de seu cultivo.
Novos agricultores vão chegando
para também fincar raízes naquele latifúndio.
Novos agricultores vão chegando
para saciar a mesma fome de terra.
Novos agricultores vão chegando;
são iguais na busca, e também no destino
de cair sempre nas garras da mesma fera.
E a cada novo estampido de tiro
vê-se mais uma semente
na plantação de homens.
(poema vencedor do IV Concurso Bafáfá de Poesia)
(José Henrique Calazans de Souza)
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