A TRAVESSIA DOS ESPELHOS
a travessia dos espelhos
corre na beira
do abismo
na
sombra do sol
mergulha em direção a um punhal
é
perfurada
o perfume selvagem escorre pelas mãos
(uma
de cada cor)
elas abrem
um pouco mais o coração
a sombra entra
& doze
pássaros saem do peito
uma melodia no deserto
bebe o líquido
vermelho das palavras
a voz move-se pouco a pouco
no peito
na sombra no punhal
os quatros ventos alimentam a melodia
atravessam
os espelhos
seus olhos
duas línguas
buscam o seu dorso
descem
por suas pernas
tocam
o abismo
&
voltam
nas chamas do espelho
o corpo canta
águas sem margens
o
ventre range
se
enterra no tempo
ondas
de pele
jardim asteca
com seus dentes afiados
o grito na
doçura dos pesadelos
o ritmo das
janelas
de
todas as janelas
submersas
no relógio
duas línguas
olhando uma
para outra
o sangue da noite
a dança
da noite &
seu suave barco
nas pálpebras a verdade dos deuses
& os doze
pássaros no ventre
o deserto caminha
joplin se
espreguiça
desaparece
no calendário
a tempestade chega
meus olhos
dançam
"summertime,
time,
time."
(J.Geraldo Neres)
|