O AFOGADO
O mar trouxe o corpo à praia.
Era um estrangeiro, jovem e belo.
A boca aberta deixava ouvir, como se viessem
do
outro mundo,
as vagas do mar e os gritos brancos das gaivotas.
Eu lhe fechei os olhos, azuis como o céu
através
das órbitas de uma caveira.
A sua nudez lhe tornava a pele mais pálida.
Sorria perplexo, como se reconhecesse num espelho
a nossa estranheza.
Olhando-o,
nós sabíamos:
também temos, em vida, o céu nas órbitas
e a morte nas pálpebras.
(José Carlos Brandão)
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