Fazendo a barba
Termina o meu banho dissoluto
Escorrem por mim as histórias do dia
Rosto ardendo de vivências
Vejo alguns fios brancos
Espuma me faz ficar engraçado
Nem velho, nem novo, diferente
A música se espalha
Pode ser Vivaldi, Gardel, ou Martinho da Vila
E vem a lâmina inclinada
Uma Solinger loira alemã cruel
Raspa a minha cara e minhas vergonhas
Sem cortes, por enquanto
Toma a minha mão e toca o pescoço
Lá embaixo a haste também rígida
Você sobe escanhoando
Ele sobe relando
Junto nossos corpos nus
O fio da navalha pressiona
Travado entre suas coxas
Você na ponta dos pés
Frente-a-frente, não me machuque
Não tenho medo
Meu rosto vai ficando liso
E você molhada
Deslizamentos
Nada abrupto
Beijo-a na sua respiração
Filete de sangue
Lambe
Mordo
Barba está feita, cabelo aparado
Só falta o bigode.
(JB Alencastro)
|