A Garganta da Serpente

JB Alencastro

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Fazendo a barba

Termina o meu banho dissoluto
Escorrem por mim as histórias do dia
Rosto ardendo de vivências
Vejo alguns fios brancos

Espuma me faz ficar engraçado
Nem velho, nem novo, diferente
A música se espalha
Pode ser Vivaldi, Gardel, ou Martinho da Vila

E vem a lâmina inclinada
Uma Solinger loira alemã cruel
Raspa a minha cara e minhas vergonhas
Sem cortes, por enquanto

Toma a minha mão e toca o pescoço
Lá embaixo a haste também rígida
Você sobe escanhoando
Ele sobe relando

Junto nossos corpos nus
O fio da navalha pressiona
Travado entre suas coxas
Você na ponta dos pés

Frente-a-frente, não me machuque
Não tenho medo
Meu rosto vai ficando liso
E você molhada

Deslizamentos
Nada abrupto
Beijo-a na sua respiração
Filete de sangue

Lambe
Mordo
Barba está feita, cabelo aparado
Só falta o bigode.


(JB Alencastro)


voltar última atualização: 20/05/2008
10267 visitas desde 11/03/2008
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente