A Garganta da Serpente

Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti

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Os Urubus e a Garça

Era uma pedra, uma ilha
no rio largo que ardia sem
                            cheiro
fazendo espelho no dia findo
para o descanso da tarde

Leve chegou, já não sei de
onde, como sem desejo
                            trazida,
folha branca, névoa infante
nas asas do tempo a bailar

Pedra cor de pedra, verde-lodo
cinza sem cor, morada firme
                            em celeste
solo para o ancoradouro do
labor da cria nos ares a vagar

Raça, cor, espécie, o rio passando
em prece ao concílio da graça
                            no templo
livre da comunhão dos filhos
na congregação das águas correntes

Eram flores negras e branca
no jardim suspenso em lembrança
                            e água
alheias a mágoas, diferenças e
história de crenças ou desventuras

O sol, ainda dando tom ouro
às penas da garça, bailarina em
                            forma,
criança, sublime inocência na
tarde de chuva a correr descalça

e nas cabeças régias de pura
estirpe imperial na humilde
                            escola
vigiavam a aurora uns urubus
suspensos em singela órbita

Serena aula, crédulos olhavam
a fauna a colorir o entardecer
                            de lição
pedagógica aos doentes na convivência
harmônica e sã sem visão de outrora

As largas, fortes, leves asas, pluma
em longa direção espreitam
                            o alimento
puro. Agora fechadas, olham as águas
e bebem-na com prazer triunfante

Urubus e garça, força e graça
mágicos a andar em picadeiros
                            de imensa
corda firme na bamba história da
imaginação crua da humana raça.


(Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti)


voltar última atualização: 19/09/2006
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