A Garganta da Serpente

Hugo Araújo

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Resguardo.

Míngua a luz dos castiçais
para afogar no coxim umbriforme
o corpo macio deitado conforme
o frio invernal nas fendas braçais
rasteja e no quente bem dorme.

Rangem as dobras das travas,
metais velhos de frio morrendo,
bocas argolas pesadas mordendo.
Pobres e espavoridas aldravas,
nunca estão do lado de dentro.

Rebate a parede das folhas o furor
das janelas como asas moinhas,
pelo vento se movem sozinhas,
pelos fantasmas a me fazerem supor
que as asas ventiladas são minhas.

Recolhem-se asas agora a pousarem
nas costas aquecidas viradas à lareira
eis o dorso para as chamas usarem
como línguas em pratos de comida à beira
como bafos escorregando em ladeira.

Deita o corpo no macio estendido,
fecha com desdém para o frio a porta,

a impenetrável lã as lufadas suporta,
afaga os ecos no ouvido escondido,
no frio invernal no quente conforta.
Outrora, não mais, lá fora perdido.

(31/05/03)


(Hugo Araújo)


voltar última atualização: 18/06/2004
7401 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente