do desejo em diante
o teu corpo é obsceno
só por si
o meu é ameno
o teu corpo tem as portas entreabertas
metade sim metade não
e outra metade ainda rindo-se com malícia esquecida entre os dentes
que o desejo não sabe poupar
nem tem lógica
que não seja a do cheiro ser cheiro apenas por deleite
por vezes nasce-se com fome de camas ofegantes
como uma lua de apetite grávido
ou uma palavra ávida por ser anoitecida
de que sexo somos nós?
eu dentro de ti
somos anjos por inventar
para inventar nós nus
eu ancorado em mar de perder-me
eu em ti
eu por ti
eu porque tu
a vida bate à porta de abraço nosso
somos felizes
está trancada por dentro
desnorte
alguém diz
"tens tocar de jardineiro"
eu não
tens ar de roseiral
impõe-se perdão
cego quando despes
amante quando pensas
amo-te quando és
impõe-se perdão
por pedir tantas vezes perdão
como um mendigo de barriga cheia
seco-te o suor do corpo com o olhar
partilhamos um cigarro apoteótico
tu querias morrer
mas já morreste
(Hienaqchora)
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