A Garganta da Serpente

Hiago R.R. de Queirós

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BUSTO DE BRONZE..

Queria poder olhar
nos olhos da morte
e ler para ela
uma poesia
que fiz triste
para acalantar
as lágrimas
do meu amor...
assim, quem sabe
ela não chore ao ter
que estender-me a mão
a pedir-me que a acompanhe
por todos os cantos
sofridos e chorosos
da vida.

Queria poder
sentir o leve deslizar
do toque dos meus dedos,
sobre sua face fria,
de um arrepiar
gelidamente cinza...
sorrindo-me entre as lágrimas,
tentando assim, se... mentir,
se convencer de que é melhor...
eu ir sem me despedir,
ouvindo somente ao fundo,
quase já mudos, aos ecos...
os aplausos de toda esta gente.

Queria aceitar este ponto
deste contraponto triste
da Fúnebre Companheira...
que é-me a única mensageira
dos segundos passados,
por assuntos quebrados,
dilapidados em letras...
ela, que me avisa que ainda...
sim, ainda há o que versar,
mesmo dentre tantos podres...
cadáveres decompostos...
espirrando em vermes de tinta,
sobre o papel da vida...
de amar, viver, comer...
existir onde, o que fica...
é somente um busto de bronze.


(Hiago R.R. de Queirós)


voltar última atualização: 03/07/2009
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