Grande Margot
Vem do Mare Nostrum talvez
Ainda que não se respire
Que se tape o nariz
Que se mergulhe em tanque a cara
O aflito cheiro drapeja
Nos vem pelos cabelos
Gruda-se nas solas
Por algum motivo se constrói
Por alguma alquimia penetra os olhos
Pelos vãos das unhas luzidias
Se abanca no hálito
De bocas vermelhas sensuais
E se procria
E desce pelas gargantas
E se instala gorda em poltronas
Bebendo cervejas de borbulhantes sonhos
Como se os sonhos não fossem apenas sonhos
Tudo pequeninim
Tudo mixuruquim
Tudo fugidim
Seguem-se as formalidades de praxe
O brilho ofuscante das etiquetas
O alto comando das tribos
Vergando estonteantes jaquetas
Todos compenetrados em serem
Elegantemente ausentes
A crítica ri
honestamente ri
renegando os incoerentes rabos
Que o digam as intelectualidades
Petrificadas de tanto não saber
Já que o formulário é extenso
Milhares de dúvidas
Estocadas em estantes
Todas ao seu dispor
(eu empresto quase todas, menos
aquelas ali e aquelas lá que são dúvidas
esgotadas e tem grande valor sentimental,
tá?)
E como esquecer do lindo salmo 922
Livro 14, alínea b,
Inciso 9,
Parágrafo dezesseis?
Tá tudo lá.
(Meu Deus, não posso esquecer
de ligar hoje prá Margot)
(Hermanno Guimarães)
|