A Garganta da Serpente

Hermanno Guimarães

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Grande Margot

Vem do Mare Nostrum talvez
Ainda que não se respire
Que se tape o nariz
Que se mergulhe em tanque a cara

O aflito cheiro drapeja
Nos vem pelos cabelos
Gruda-se nas solas
Por algum motivo se constrói
Por alguma alquimia penetra os olhos
Pelos vãos das unhas luzidias
Se abanca no hálito
De bocas vermelhas sensuais

E se procria

E desce pelas gargantas
E se instala gorda em poltronas
Bebendo cervejas de borbulhantes sonhos
Como se os sonhos não fossem apenas sonhos
Tudo pequeninim
Tudo mixuruquim
Tudo fugidim

Seguem-se as formalidades de praxe

O brilho ofuscante das etiquetas
O alto comando das tribos
Vergando estonteantes jaquetas
Todos compenetrados em serem

Elegantemente ausentes

A crítica ri
honestamente ri
renegando os incoerentes rabos

Que o digam as intelectualidades
Petrificadas de tanto não saber
Já que o formulário é extenso
Milhares de dúvidas
Estocadas em estantes
Todas ao seu dispor
(eu empresto quase todas, menos
aquelas ali e aquelas lá que são dúvidas
esgotadas e tem grande valor sentimental,
tá?)

E como esquecer do lindo salmo 922
Livro 14, alínea b,
Inciso 9,
Parágrafo dezesseis?
Tá tudo lá.

(Meu Deus, não posso esquecer
de ligar hoje prá Margot)


(Hermanno Guimarães)


voltar última atualização: 26/12/2007
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