A Garganta da Serpente

Hermanno Guimarães

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Bala sem rumo

Não
eu não acredito entender
Ainda que viva muito
E nem me esforço mais
Relaxo
deito em redes estirado
Sorvo sorvetes gelados
E faço amor com a ansiedade

Ambos loucos eu e ela
Consumindo-se em anemias de tevê
Entupida de líbanos afegãos
Favelas e suíças miseráveis
A sordidez deputável

E eu e ela com isso?
Me assumo lindamente marginal alienado
Me ponho a nu da pose do herói salivado
Mansamente guardo meu cic no bolso
E espero loucamente o bicho do sábado

Não me importo não
Se me cobram partidos
Time de várzea ou liga nacional
A defesa da não poluição
Uma postura de guarda do pelotão

Na porta daquela loja tinha
um menino de cinco anos
que brincava na calçada todo dia
Semana passada
à tardinha
sem saber
Morreu de uma bala vadia

( refletindo bem
é tudo uma merda
e ouço música em meio às manhãs fabris
e não vou a teatros porque me aborrecem
e deixam a coitada
morta de tédio)


(Hermanno Guimarães)


voltar última atualização: 26/12/2007
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