A Garganta da Serpente

Henrique Rishi

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Esse universo de sensações

Talvez
se eu abrisse os olhos talvez se eu os fechasse talvez nem haja olhos e eu esteja cego
para o fato de que tudo está acabado para o fato de que tudo se transforma
e de que nada termina ou de que talvez não devesse estar escrevendo e sim dormindo
ou sentado em minha escrivaninha olhando o vento entrar pela janela mas o que é o vento a entrar pela janela se as coisas não são o que são para meus olhos
se nem meus olhos são meus olhos se meus olhos são os olhos dos outros os olhos do mundo que me puseram na cara e me disseram que eram meus de fato não, meus olhos não são meus nem o mundo nem o vento e já me canso desta conversa toda
meu violão está desafinado ou está repleto de incertezas sobremaneira nunca pude tocá-lo pois me faltam braços e minhas pernas se foram sozinhas caminhante infeliz
creio estar desesperado quando na verdade sobrevêm apenas este cansaço de tudo mas tudo quanto me cansa ainda não é nada posto que não conheço tudo mas agora é tarde eles estão vindo eles não sei quantos são, mas são muitos e não me liberto
desta sinistra modorra, para apresentar-me não queria eu relaxar, afinal? maldito diabo que me tomou a alma não há remédio contra o diabo, aliás o remédio está somente nele mas talvez não me sejam os olhos como falava há pouco pode bem ser que sejam os óculos meio tortos nenhum óculos ainda corrigiu-me a vista e estou farto de comprar pares novos hei de permanecer com este que tenho por enquanto irei consertá-lo contorcendo-me a face talvez seja esta uma tentativa de escrever um poema tal qual a minha vida.


(Henrique Rishi)


voltar última atualização: 25/04/2017
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