Esse universo de sensações
Talvez
se eu abrisse os olhos talvez se eu os fechasse talvez nem haja olhos e eu esteja
cego
para o fato de que tudo está acabado para o fato de que tudo se transforma
e de que nada termina ou de que talvez não devesse estar escrevendo e
sim dormindo
ou sentado em minha escrivaninha olhando o vento entrar pela janela mas o que
é o vento a entrar pela janela se as coisas não são o que
são para meus olhos
se nem meus olhos são meus olhos se meus olhos são os olhos dos
outros os olhos do mundo que me puseram na cara e me disseram que eram meus
de fato não, meus olhos não são meus nem o mundo nem o
vento e já me canso desta conversa toda
meu violão está desafinado ou está repleto de incertezas
sobremaneira nunca pude tocá-lo pois me faltam braços e minhas
pernas se foram sozinhas caminhante infeliz
creio estar desesperado quando na verdade sobrevêm apenas este cansaço
de tudo mas tudo quanto me cansa ainda não é nada posto que não
conheço tudo mas agora é tarde eles estão vindo eles não
sei quantos são, mas são muitos e não me liberto
desta sinistra modorra, para apresentar-me não queria eu relaxar, afinal?
maldito diabo que me tomou a alma não há remédio contra
o diabo, aliás o remédio está somente nele mas talvez não
me sejam os olhos como falava há pouco pode bem ser que sejam os óculos
meio tortos nenhum óculos ainda corrigiu-me a vista e estou farto de
comprar pares novos hei de permanecer com este que tenho por enquanto irei consertá-lo
contorcendo-me a face talvez seja esta uma tentativa de escrever um poema tal
qual a minha vida.
(Henrique Rishi)
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