A Garganta da Serpente

Henrique

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Um último golpe na esperança

Como ainda machucam aquelas palavras,
palavras ditas em silêncio, com os olhos, lamentos,
Como ardem as intragáveis palavras de minha juventude,
palavras feitas de amor, ecoando desesperanças,
palavras silenciosas, maldosas, subversivas, respostas e atitudes.

As palavras são minhas testemunhas
e, não menos, meus carrascos,
foram elas que disseram o quanto te amo,
foram elas que responderam não a mim mesmo,
ao meu amor, ao que eu senti,
disseram-me que de nada valeram,
aquelas palavras que proferi.

As palavras me atingiram,
Calaram-me, me esfolaram vivo,
hoje não falo, procuro não pensar, calo, não digo,
não soletro mais que cinco palavras, não falo nada,
que não possua em si uma oração dissimulada.

Oração, coração, traição, solidão,
também se tornaram nada mais que palavras
sem sentido, sem motivação e sem utilidade,
nunca mais buscarei a tal felicidade,
se calhar, ela que me ache
e me dê sua boca com todo o fervor,
mas não tuas palavras de amor,
Dê-me o seu corpo com toda sensualidade,
mas não seu sentimento de dor e saudade,
não quero eternidade,
eu quero momento,
forte, puro e sem gelo,
para arder na minha boca e na minha alma
e embebedar meu desespero.

Cansei de julgar sentimentos,
de esperar respostas,
de entregar a alma,
agora meu amor é do mundo, da noite, imundo,
quem tiver a coragem de tentar mudar esse sentimento,
de enfrentar essa dor, de me tentar,
está convidada a me provar.

Vou entregar o meu amor a quem de fato não o merece,
aliás, na verdade, ninguém nunca o mereceu,
vou dedicar os meus beijos a bocas infames,
distribuir meus abraços a mulheres vazias,
não quero mais amar,
nem escrever poesias,
quero somente viver,
sem porquês, sem excessos, sem demagogias
quero ser unilateralmente amado,
como amei
e fui trocado,
não quero mais amor,
mas sexo,
sem nexo,
sem verdadeiro valor, sem esperança,
nem quero mais me olhar no espelho, perplexo,
não quero que meu sorriso e minhas palavras,
carreguem qualquer tipo de fardo,
o mundo mudou, está cinza, murchou,
virou um imenso mercado,
quem dá mais pelo meu amor?
Eu quero ser leiloado.

(15/02/2003)


(Henrique)


voltar última atualização: 26/05/2003
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