Capelinha de Melão
Um Joano e uma Joaninha
Entraram pra casar na capelinha
Capelinha de melão
O padre era um bicho de goiaba
Plácido
Que enjoou do cheiro doce
E procurou um sabor mais ácido
O aroma de melão
Onde fez a capelinha
E casou tudo que é ser vivente,
Daquela plantação
Eu era nesse tempo uma perceveja
Apaixonada por uma aranha
Bem caranguejeira
O padre fez contestação
Mulher com mulher dá jacaré!
Caso não!
Chamamos as abelhas feministas
As formigas ativistas
Minha amada ameaçou o padre
Com seu veneno mortal
Sacristão do capeta!
Careta, careta
Fugiu com o circo mambembe
Dos irmãos pulgas pernetas
Eu e minha amada
Desconsoladas
Casamos no informal
Um besouro africano
Fez um tal de ritual
Cruzaram raios no céu
Caíram mortas, as pombas...
Disseram ser coisa do mal.
Casamos assim afinal
E na lua de mel na colméia
Convidadas da rainha
A terra estremeceu
Começou transformação
No primeiro cafuné
O padre vingou maldição
Viramos jacaré
Arrebentamos colméia
Matamos os bichos e as bichas
Viramos predadoras
Hoje vivemos no rastro
Do bicho de goiaba enjoado
Quem passa perto morreu
Somos um circo de horrores
O padre terá morte lenta
Numa noite de lua cheia
Deixaremos orgulhosas
Sua carcaça gosmenta...
(Heloisa Galvez)
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